segunda-feira, 6 de julho de 2015

P.S. I LOVE YOU

Você pode ler esse texto ouvindo Marry you - Bruno Mars

       É uma sexta-feira de manhã, ou sábado, talvez domingo… Não sei exatamente. É a manhã do primeiro dia da primavera em 2027. Sim, já passaram-se anos. 12 para ser mais exata. Lembra da última vez que nos vimos? Lembra como nos olhamos por frações de segundos, desviamos os nossos olhares e escolhemos o silêncio? Engraçado, nesse dia cada um caminhou para o lado oposto do outro. Eu fui pela direita e você pela esquerda. Mal sabíamos que nunca mais nos encontraríamos. Pelo menos, não fisicamente. 
    Não nego que nesses anos, mesmo quando eu já havia beijado outras bocas, dividido outras histórias, deitado em outras camas, misturado a minha risada com outras risadas e ter trocado zilhões de olhares por aí a fora, quando eu deitava na cama, ás vezes, bem ás vezes, como se fosse pra me fazer lembrar que sempre seria uma parte de mim, você aparecia nos meus sonhos. Algumas vezes, ou a maioria delas, eu acordava sem conseguir lembrar exatamento do sonho, mas eu sabia; você esteve lá. Por algum tempo, depois do nosso último encontro, fantasiei o dia que nos reencontraríamos, o dia que você perceberia o que eu sempre signifiquei para você, o dia que eu receberia uma abraço seu pela primeira vez. Pois é, nós nunca nos abraçamos. Foram longos dias, noites e meses para perceber que nada daquilo iria acontecer. 
    Passei na faculdade, arrumei um estágio e logo os problemas da nova vida adulta, tomaram toda a minha atenção deixando você meio de canto. Comecei a ir em festas que viravam a madrugada, já dava alguns goles em bebidas alcoólicas e dependendo do meu estado até tragava um cigarro. Pode ficar surpreso. Eu, que sempre fiz um discurso todo politicamente correto sobre os malefícios das bebidas e do cigarro, cheguei a esse ponto. Depois do terceiro ano de faculdade já conhecia metade dos cantinhos de lá e quase 1/3 do time de futsal. Pode parar de olhar para o papel e achar que eu virei a maior vagabunda da história da comunicação. Cala a boca! Eu quis ser só sua. Eu quis. Tudo mudou no quarto ano e último do curso de Jornalismo. 
    Eu já estava cansada do amor, já estava cansada de me arriscar, já estava cansada de planejar uma vida a dois quando ele apareceu. Ele. Não você. Ele que não é nada parecido com você, mas também está longe de ser aquele cara que você sempre disse que eu merecia e procurava. Ele não era o meu tipo ou o tipo de qualquer mulher. Ele era ele. E isso bastava. Tentei te explicar isso uma vez. Ele não me dava flores todo dia 03 de cada mês, dia que demos o nosso primeiro beijo. Ele não me acordava toda manhã com mensagens de “Bom dia” e muito menos me ligava toda noite pra dizer que era a minha voz que ele queria ouvir por último antes de dormir. Muitas vezes ele ficava o dia todo sem falar comigo, esquecia que dia 03 era (e ainda é) especial e usava boné quase todo fim de semana, mesmo eu odiando. Ele era ele. E foi por isso que eu disse sim. 
    Ele não me chamou para jantar e do nada apareceram caras de todos os lados tocando uma música romântica e ele me mostrou um anel de diamantes junto com a famosa pergunta: “Quer casar comigo?”. Não, ele não parou metade de um shopping para fazer um flash mob e me pedir em casamento. Muito menos me perguntou se queria ser a sua noiva e futura mulher em uma tarde de verão em Paris. Não foi nada disso. Só estavamos um dia na casa dele, havíamos passado a noite juntos, ele me olhou e disse: “Eu quero acordar todo dia e te encontrar do meu lado. Você me permite esse pequeno instante de felicidade?”. Eu respondi “Sim.”. E cá estou. Prestes a me casar. É daqui a pouco. Enquanto escrevo essa carta, meus convidados já estão se direcionando para a igreja. Minha mãe está lá fora, só esperando eu terminar para que possamos arrumar o que falta e ir para lá também. Não quero deixá-lo esperando, pois sei o quanto a espera, por menor que seja, dói.
     Sei que quando essa carta chegar até você eu já vou estar casada. Então, não pense que estou te escrevendo para que você saia correndo e vá até a igreja me impedir de casar. Pelo contrário. Por favor, não faça isso. Mesmo que você tenha algum súbito de loucura e pense estar perdendo a mulher da sua vida. Por favor, não estraga esse momento. Eu não mereço. Ele não merece. Você não merece. Pelo menos, dessa vez, me deixa ir. Pois é isso que estou fazendo com você por meio desta carta. Estou te deixando ir. Mesmo que você já tenha ido 12 anos atrás. Dessa vez estou te deixando ir de verdade. Você não pertence mais a mim. A sua parte na minha vida já não pertence mais a mim. A nossa história já não é mais nossa. Quando eu falar “sim”, estarei acabando de preencher um livro da minha vida e pegarei um novo, em branco, para escrever novos momentos, novas histórias ao lado do homem que escolhi. E espero, um dia, poder saber que você fez o mesmo. 
 Minha mãe acabou de bater na porta, preciso me despedir.

Até, quem sabe, um dia. 

PS: Amo você.


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